Elas representam 32% da força de trabalho nas fábricas, segundo o Portal ODS
As mulheres vêm conquistando espaço em diversos segmentos da indústria brasileira, representando 32% da força de trabalho com maior presença no ramo de confecções e artigos do vestuário.
Porém, não é o bastante. Os espaços fabris ainda são fortemente dominados pelos homens, tendo o setor automobilístico com mais distinções de gênero e salariais.
O Dia Internacional da Mulher (8) foi marcado por movimentos históricos que reivindicavam a igualdade de gênero nas fábricas ao redor do mundo, tornando este o melhor momento para entender o cenário feminino no século XXI e as mudanças neste setor.
A história das mulheres nas fábricas começa na Revolução Industrial no século XVIII, quando houve a admissão do trabalho feminino como mão-de-obra barata e inserindo definitivamente a mulher na cadeia produtiva. Porém, elas cumpriam jornadas absurdas de até 17 horas de trabalho em condições precárias com salários 60% menores que os dos homens.
Neste cenário, as mulheres começaram a se organizar para protestar pelos seus direitos e igualdade, estabelecendo a presença feminina no mercado de trabalho e, consequentemente, o crescimento da industrialização no Brasil.
Nos Estados Unidos, uma grande passeata mobilizou mais de 15 mil mulheres para marcharem em 26 de fevereiro de 1909, exigindo a redução de jornada e melhores condições de trabalho. Este dia foi marcado como o primeiro "Dia Nacional da Mulher" americano.
Pela Europa, os movimentos socialistas ganharam força e em 26 de agosto de 1910, durante a Segunda Conferência Internacional das Mulheres Socialistas, a líder alemã Clara Zetkin propôs a criação de uma jornada de manifestações.
A origem do Dia Internacional da Mulher se deu em 1917, no qual milhares de mulheres protestaram na Rússia contra a fome e a guerra, instituindo uma greve nacional.
Atualmente, as mulheres representam 32% da força de trabalho nas indústrias, sendo o segmento de confecções e artigos do vestuário os que mais empregam a mão de obra feminina, segundo o Portal ODS. Só na indústria téxtil, elas são 70% do 1,7 milhão de colaboradores empregados no Brasil.
Já os homens correspondem 25% dos empregados nestas áreas devido a necessidade de mais habilidades manuais e cuidado com detalhes no acabamento de produção (geralmente não realizada por máquinas).
Outro estudo da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) revela que a cada quatro pessoas empregadas da indústria, uma é do sexo feminino. A participação feminina nas fábricas cresceu 14,3% em 20 anos, de acordo com o Ministério do Trabalho e Emprego.
Entre os segmentos que mais cresceram com a contratação de mulheres no mesmo período, estão o de mineração (65,8%), material de transporte (60,8%), alimentos e bebidas (49,3%), madeira e mobiliário (39,3%), indústria mecânica (37,3%) e papel e gráfico (24,7%).
Além disso, a construção civil e metalmecânica apresentaram um aumento significativo na proporção de postos de trabalho ocupados por mulheres, com alta de 39,9% na metalurgia, 37,3% na engenharia mecânica e 31,1% na engenharia civil.
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Ainda há muito trabalho a fazer para tornar os espaços fabris mais igualitários. As mulheres continuam ocupando poucos cargos de liderança e gestão no Brasil, sendo que muitas das linhas produtivas exigem qualidades femininas, atenção e cuidados.
As desigualdades salariais ainda são muito comuns, sendo que em 2018, independentemente da escolaridade, as mulheres ganhavam quase 14,80% a menos do que os homens exercendo a mesma função. Em cargos de nível superior, a remuneração correspondia a 64,13% do salário dos homens.
Para as indústrias, a maior diversidade de gênero traz uma grande vantagem competitiva que abrem portas para novos talentos, estimulando a economia e crescimento da empresa. E elas têm mais a ganhar com essa pluralidade: foi comprovado que funcionários de gêneros diferentes podem gerar 21% a mais de lucro para um negócio.
E com as mulheres, se pode alcançar ainda mais: líderes femininas nas empresas têm resultados até 20% melhores que os homens, segundo a ONU.
Um caso muito interessante de sucesso e diversidade dentro da indústria automobilística é o da Juliana Coelho. Com 31 anos, a engenheira pernambucana tornou- se a primeira mulher a ocupar um cargo de liderança no grupo FCA Fiat Chrysler, em Goiana (PE), chamada de Polo Automotivo Jeep.
Em 2020, ela assumiu a gerência geral em uma das fábricas mais modernas do mundo, onde comanda mais de cinco mil operários da linha de produção. Atualmente, a FCA Fiat Chrysler produz os utilitários-esportivos Renegade e Compass, da Jeep, e picape Fiat Toro.
Juliana já exerceu os cargos de trainee, supervisora, gerente da área de pintura e gerente do setor de montagem de veículos. Recentemente, liderou a área de VLM, responsável por novos desenvolvimentos na manufatura para a América Latina na fábrica de Betim (MG).
Segundo uma entrevista para a Draft, ela se destacou pelo seu conhecimento técnico e pela capacidade de liderar equipes. Sua missão é dar continuidade ao trabalho de aperfeiçoar a produção da Jeep, que em 2019 conquistou a certificação Prata do World Class Manufacturing em pouco tempo de operação na América Latina.
Por mais histórias assim, que possam incentivar mulheres a assumirem cargos de liderança no setor industrial!
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